sábado, 20 de outubro de 2007

Notícia: Malária pode regressar

As alterações climáticas poderão fazer reaparecer, a prazo, no Sul da Europa, doenças que hoje são próprias dos países tropicais, mas que, no passado, provocaram por cá bastante devastação. É o caso da malária, que chegou a matar quatro mil portugueses por ano, nas décadas de 1920 a 1940, mas que actualmente se limita à cerca de meia centena de casos anualmente importados por imigrantes e turistas.

Vários especialistas citados pela agência Lusa acreditam que a subida da temperatura pode favorecer o reaparecimento do mosquito vector da doença. Também conhecida como paludismo ou sezões, a malária é uma doença infecciosa, aguda ou crónica, causada por parasitas transmitidos pelo mosquito anopheles.

Erradicada de Portugal na década de 1950, a malária é endémica em algumas regiões da Ásia, da África e da América Latina e, sem vacina que a previna, ainda responsável por dois milhões de mortes por ano. E "tudo aponta para que a Europa volte a conhecer esse tipo de doenças", alerta o médico presidente da Assistência Médica Internacional, Fernando Nobre, secundado pelo antigo coordenador da Unidade de Malária do Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Lisboa, Virgílio do Rosário. As mudanças climáticas são, para o especialista, um factor a ter em conta, dado haver "uma relação estreita entre o ambiente e a propagação deste tipo de doenças".

Além da malária, está também em causa a febre dengue ou a leishmaniose, igualmente transmitidas por mosquitos. A constatação do risco de regresso à Europa, garantem os especialistas, não é alarmista. Mas é real. "É preciso alargar o conhecimento" dos profissionais de saúde, diz Virgílio do Rosário, que, como Fernando Nobre, defende a formação. "Mesmo assim, acho que os serviços europeus de saúde estão aptos a têm todas as condições para eliminar um possível surto", acredita o especialista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical.

O risco de ressurgimento de doenças como a malária devido às alterações climáticas é, actualmente, objecto de prevenção e vigilância a nível europeu, através do projecto Eden. Juntando 48 institutos de investigação de 24 países, pretende analisar a situação passada e os factores que justificaram a presença desses parasitas na Europa e o que permitiu a sua erradicação. Depois, visa avaliar a existência de comportamentos de risco, como nos casos importados, e o surgimento de novas variáveis que possam fazer reaparecer as doenças.

Portugal, Espanha, Itália e Grécia são os países que correm maior risco, num prazo que, segundo Fernando Nobre, poderá andar pelos próximos 50 ou cem anos. O mosquito anopheles ainda existe no nosso país, mas, segundo o Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas, perdeu a competência de transmitir o parasita da malária. Uma realidade que o fenómeno do aquecimento global pode
alterar.







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